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quarta-feira, dezembro 07, 2011

Comprando o martelo de nosso próprio caixão





E ali caído estava. Um corpo inanimado sem vida. Sem vida mas ainda avermelhado, rubro de raiva, em suas feições marcadas, ainda residia a ira que até pouco tempo demonstrara. Tudo podia ter sido diferente, podia ter chegado em casa para jantar, sentado em frente de sua tv e continuado com a sua vida medíocre. Mas estava irritado com o trabalho, da noite de insonia e da rotina amarga. Sua revolta com o mundo era tamanha que não podia deixar de extravasar. De tal forma que,quando viu a fila do ônibus lotada achou sua causa a ser defendida. Esperou pacientemente o baubúrdio começar. 

Todo dia no terminal um fila espera a outra acabar para entrar,quando não cabe mais pessoas, essas saem e vão para o final da fila original. Eventualmente, confusões acontecem e hoje foi um desses dias. O fiscal tentou explicar, outro tentou dispersar, mas de nada adiantava. O senhor do qual vos falo fez de si personagem principal. Gritava para o povo não ir embora, defendia o direito que não tinha e xingava as pessoas ao lado.

Eu no meu canto, esperando minha vez, podia ter ido  embora, pego outra fila, mas ao invés disso fique. Fiquei e observei os minutos passarem e a discussão continuar. A cada minuto o homem ficava mais nervoso, gritava mais alto, seu rosto estava tão vermelho que parecia prestes a explodir. E foi assim, em um último momento de fúria, que o dedo apontando para o fiscal foi para o peito. O barulho virou grunido e o grunido silêncio. 
Por um segundo a multidão furiosa ficou calada e, de seus lugares, observavam o centro da discórdia esmaecer enquanto se dirigia ao chão. Após ser socorrido, ja sem respirar, pudemos finalmente ir para casa em paz. 

Tudo podia ter sido diferente, podia ter chegado em casa para jantar, sentado em frente de sua tv e continuado com a sua vida medíocre. Mas não podia deixar de extravasar, de bancar o injustiçado, derramando sua fúria, não podia deixar os vícios de lado. 

As pessoas no ônibus falavam, seja uma com as outras ou pelo celular, outras tiraram fotos. 
De tudo uma coisa é certa, o velhote de fato embarcara em uma viagem. Provavelmente não a que imaginara. Se soubesse sua sina, teria feito diferente? talvez abraçado seu filho que estava ao lado e mostrado como um homem de princípios na verdade é? teria lhe ensinado o que é respeito? ou teria feito o mesmo? 
Ele não imaginava para onde ia viajar, mas viajou. 
De tudo para mim fica a lição de que mais vale uma vida na mão que uma fila andando. 
Gostaria de dizer que as pessoas aprenderam a lição, mas é mentira, estamos todos muito mais preocupados com nossos umbigos e necessidades para interpretar os sinais a nossa volta. Gostaria de dizer que tive pena do velho, mas não tive. 

E assim termino minha estória sinistra com esse sinal inusitado, sem mais delongas porém não menos amargo.  Porque final feliz ninguém lembrar e o sinistro para sempre é comentado.

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